"As ruas fervem em todo o Brasil. Jovens, e outros nem tanto, ocupam as cidades que o capital teima em tentar monopolizar para seu gozo exclusivo, exigindo transportes mais baratos e, cada vez mais, direito à livre manifestação. Com muito vinagre e fogo no lixão urbano, os manifestantes rebelados afrontam as bombas de gás, balas de borracha, e outras nem tanto, da repressão policial. Nos (tele)jornais, querem dirigir o que não puderam evitar, apresentando um vilão fantasmático: “a corrupção!”, para tentar desviar o foco da materialidade das contradições sociais que emergem com as centenas de milhares de pessoas nas ruas. Para eles, há os pacíficos e os vândalos. Bandeiras nacionais e hinos patrióticos representam a “verdadeira cidadania”, os partidos de esquerda seriam os “aproveitadores”. A linha é tênue, e varia conforme os humores dos manifestantes e as “sondagens de opinião”. Há quem, nas próprias manifestações, reproduza valores desse esforço ideológico para direcionar as mobilizações para a zona de conforto da classe dominante. Mas, os jornalistas dos monopólios da comunicação precisam se refugiar nos helicópteros e estúdios, porque sabem que a maioria ali não acredita no que dizem e nas ruas podem também ser brindados com o escracho dos que lutam. Lutam pelo que? O que explica a explosividade e a rapidez surpreendentemente desses acontecimentos? Aonde podem chegar? Qual o seu potencial? E os limites que precisam ultrapassar?" - Com esta breve introdução iniciamos nosso blog em junho de 2013. A luta continua e por isso este espaço continua aberto às analises!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Antiliberal e crítico do marxismo, MPL usa multidão como arma


por Bruno Paes Manso e Marcelo Godoy



Por mais cabeluda que seja a pergunta, os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) têm uma resposta na ponta da língua que parecem acostumados a dar faz anos. "Como justificar o vandalismo?" pergunta um jornalista. "A culpa é do Governo e da Prefeitura, que não baixam a tarifa e estimulam a revolta popular". Nascido no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005, o MPL acredita que a política deve ser feita pela base, privilegiando formas de atuação direta em detrimento dos partidos tradicionais e das práticas institucionalizadas da democracia representativa. Assim, sua visão de mundo os coloca na esquerda do espectro político, entre os adversários do liberalismo econômico e os críticos do marxismo ortodoxo; enfim, eles pensam que "um outro mundo é possível".
Nascidos na sociedade pós-moderna, sem fábricas, com Estados em crise, os integrantes do MPL inspiram-se em filósofos autonomistas, como Toni Negri. Expoente do grupo de extrema-esquerda italiano Potere Operaio nos anos 1970, Negri defende a autonomia em relação às instituições, um poder descentralizado e marcado pela autogestão. O MPL também tem entre suas referências o pensador Cornelius Castoriades, para quem a autonomia pessoal apenas pode "ser concebida como empreitada coletiva". É por isso que, indagados sobre o que é seu movimento, os líderes do MPL trazem na ponta da língua outra resposta: "Somos uma organização horizontal e autônoma".
Lideranças, carros de som e partidos que monopolizam o discurso não os representam, mas a massa e o coro das ruas ampliam as vozes e tornam a luta coletiva. O coletivo, aliás, o anônimo, o impessoal dão forma ao grupo, onde não deve haver espaço para ego inflados. Vaidosos "não passarão".
A iconoclastia faz com que as máscaras de V de vingança e os panos cobrindo o rosto que escondem a individualidade dos integrantes se popularizem nas passeatas, além de serem instrumentos úteis que permitem aos radicais praticarem a "arte da desobediência civil" impunemente. A multidão tem papel importante. Trata-se de uma nova arma, articulada pelas redes sociais. As "forças democráticas" devem se opor a novas formas de tirania dos Estados modernos que, segundo eles acreditam, limitam a participação política e popular ao transformar o espaço público em um campo de batalha, no qual a política é tratada como extensão da guerra e não o contrário, como pensou o teórico Carl von Clausewitz.
Essa massa libertária onde há espaço para coletivos com diferentes perfis e demanda, inclusive os anarquistas, criam um clima de tolerância que abre os braços para vários tipos, o que acaba às vezes dificultando o controle da pauta dos protestos. Nas manifestações, pedia-se de tudo, desde condenação da PEC 37 a causas gays e de liberação das drogas. A violência como reação às agressões do Estado se justifica. O livro Como a não violência protege o Estado, de Peter Gelderloos, é uma influência, principalmente dos Black Block, a tropa de choque dos protestos, com identidade anarquista. O vandalismo politizado de alguns manifestantes, que expôs o despreparo da PM e dos governantes, acabou sendo decisivo na vitória das manifestações.

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